segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O fim do silêncio

O título ficou parecendo um trocadilho sem graça, mas não era para ser. A ausência nos últimos dias não foi proposital. Eu simplesmente não sabia como encerrar o capítulo final, então coloquei o blog em compasso de espera ...

Estou de volta ao Brasil. As pessoas me perguntam "E agora, como vai ser?" 

"Não sei. Vai ser como tiver que ser". Tem muito trabalho pela frente, do tipo antigo e do tipo novo.

O que eu sei mesmo é que o silêncio no Brasil é bem mais complicado do que em Dhaka, por mais contraditório que isso possa parecer. Ainda mais na época de Natal.


A aventura desse blog está oficialmente encerrada. Ano que vem volto com novidades.
 
O silêncio em Dhaka chega ao fim.
 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A suástica do bem

Nas andanças pela Índia notamos que muitas mulheres tinham tatuagens em forma de pequenas suásticas no antebraço. Da primeira vez achamos que poderia se tratar de uma hindu maluca, por mais contraditório e absurdo que isso pudesse parecer, mas depois de duas, três, quatro, cinco pessoas usando imagens tão semelhantes, tivemos que recorrer ao nosso guia.

"Marina, a palavra suástica deriva do sânscrito svastika, e é um amuleto de sorte no hinduísmo. A marca da suástica é usada há mais de um milênio e meio no Oriente (não apenas na religião Hindu) e até ser relacionada com o Nazismo não chamou muita atenção do mundo ocidental".

Choque. Quanto mais tempo você fica nesse canto do mundo, mais você entende que não sabe nada sobre nada e que a história do mundo ocidental ainda está engatinhando ...

"Como é que é? Além dele ter feito o que ele fez, ele ainda pegou um símbolo sagrado no Oriente e o relacionou ao Nazismo?"

"Sim". 

A suástica que era usada pelo Hitler tinha os braços apontando para o sentido horário, ou seja, indo para a direita. A suástica usada pelos Hindus está em outra posição:



A tradução literal da palavra em sânscrito é: "bom, bem" (su) + "ser" (asti) + "forma diminuta" (ca) = "pequenas coisas associadas ao bem-ser", ou, no bom e velho português, a arte de viver bem, de forma simples"

A expressão apareceu a primeira vez na literatura hindu nos clássicos épicos em sânscrito de Ramayana e Mahabharata. Falando nisso, as histórias desses épicos são incríveis e deliciosas ... e tem muita literatura sobre o assunto na Índia ... Irresistível.

Depois da explicação do guia, começamos a reparar que a suástica é usada em todo lugar por aqui:  nos templos, nos túmulos, nos altares, nas pinturas, gravuras e ... claro, nas tatuagens dos mais jovens.

Aprendi também que os hindus acreditam que a marca é muito "auspiciosa" e carrega um significado ainda maior do que "a arte de viver simplesmente, e bem". Para eles, há muitos significados por trás do símbolo. Descrevo abaixo uma das explicações de que mais gostei:
 
"Cada um dos braços do símbolo (são 4) representam uma etapa da vida de cada ser humano. A primeira etapa, é a etapa de crescimento, educação, entendimento do mundo e das pessoas. A segunda etapa é a etapa de constituição de família e manutenção de laços com pessoas queridas. A terceira etapa é aquela de passar aos filhos e aos mais jovens os ensinamentos da vida. E a quarta e última etapa, é a etapa do desprendimento total. Desapego dos valores materiais e crescimento dos valores espirituais".
 
E pensar que um alemão confuso e perdido conseguiu vincular "isso" à "aquilo".
 
A versão original é sempre a melhor. A regra aqui não tem exceção.