quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Grameen Danone e Grameen Health Care - SOCIAL BUSINESS!

Saindo de Rajshahi, antes de voltar a Dhaka, fomos até Bogra, onde ficam instaladas duas iniciativas de social business do Grameen: a Grameen Danone e a Grameen Health Care (hoje uma clínica de oftalmologia).

A viagem até Bogra, duas horas e meia, de carro e motorista contratado, foi tão ruim e cambaleante, que o intérprete resolveu trocar de motorista chegando lá. “Nem pensar que ele vai dirigir assim até Dhaka”. Para minha tranqüilidade e alívio, dito e feito, e em 30 minutos tínhamos um novo carro nos esperando na sede da fábrica da Danone, com um motorista bem mais decente e tranqüilo.

A fábrica da Danone é o máximo, pelo o que ela representa na comunidade local, por ser uma das primeiras iniciativas de social business que o Yunus fez com uma multinacional, e, acima de tudo, por estar dando certo, e lucro.



Um francês, bem típico francês – na aparência e na antipatia – nos recebeu. Fez o favor de nos mostrar a fábrica, explicar como as máquinas funcionavam, enfim, explicar o que honestamente não tem muito que ser explicado: iogurte sendo embalado.

Na verdade, gostei mesmo foi de saber onde são os centros de distribuição (agora já tem o iogurte em Dhaka), conhecer as mulheres que batem nas portas das comunidades para vender os iogurtes em uma frasqueira térmica ("a la" Natura, de porta em porta), ver as fotos, ver os números, experimentar o tal produto, colocar avental e toca no cabelo para entrar na linha de produção, ver o negócio operando. Na entrada da fábrica, um quadro pendurado, com fotos da inauguração e um autógrafo de Zidane. Ele veio para cá na abertura da fábrica, participou da festa, jogou futebol com a meninada, e fez a maior confusão. Depois do Kaká e do Ronaldinho, o Zidane é o jogador que o intérprete mais gosta aqui, basicamente por conta desse dia, que segundo ele, "nos trouxe alegria  com muita boa vontade".

Fatos alarmantes que aprendi na Grameen Danone:

  1. População atualizada de Bangladesh já é de 160 milhões (meu número anterior era um pouco menor que esse)
  2. 73% da população é rural (como a que eu visitei em Rajshahi)
  3. 32% tem menos do que 14 anos
  4. 60% das pessoas vivem com menos de 2 USD por dia
  5. 40% de Bangladesh vive abaixo da linha da pobreza (não sei onde eles colocam essa linha, para ser sincera. Acho que é bem abaixo da nossa)
  6. Existem 1084 pessoas por km2
  7. Expectativa de vida é 65 anos, e quando a pessoa tem 55 aqui, começa a se preparar para envelhecer e morrer
  8. É o 146º país mais atrasado no mundo em desenvolvimento
  9. Uma de cada duas (!) crianças em Bangladesh sofre desnutrição (inclusive aquelas serelepes e pulantes que eu conheci há poucos dias)
  10. Como a desnutrição afeta o desenvolvimento mental das crianças e o sistema imunológico, crianças desnutridas estão sempre doentes, faltam muito às aulas, não se educam, não trabalham, e o ciclo da miséria continua
  11. Uma das missões da Grameen Danone é mitigar/eliminar o efeito da desnutrição das crianças na capacidade do país de se desenvolver
  12. O iogurte bacana chama "Shokti +" e é vendido num potinho azul bebê (tem o mesmo gosto que qualquer iogurte da Danone)
  13. O potinho de 60 gramas de Shokti custa 6 takas (detalhe, um dólar aqui equivale a 70 takas)
  14. O potinho de 60 gramas de Shokti tem os seguintes ingredientes:
    • leite de vaca
    • açucar e melaço
    • lactobacilos vivos
    • Vitamina A e outros micronutrientes e sais
    • Não peguei a quantidade de calorias!!!!
O Grameen Health Care é uma clínica super especializada em oftalmologia. Todos os médicos e enfermeiras são de Bangladesh, mas foram treinados na Índia. O hospital é, de longe, o lugar mais limpo que eu vi em Bangladesh desde que cheguei aqui. Tá certo ... compete com o Sheraton. Mas foi com alívio que eu vi o tratamento das pessoas, os processos, as máquinas, enquanto o gerente do hospital me recebeu e adorou poder falar com alguém de fora da região. Bogra é uma região muito pobre e ele é meio sozinho lá. A mulher dele mora em outra cidade, é médica pediatra, e ele fica aqui, às vezes por três, quatro semanas sem vê-la.

O hospital, como social business, cobra os serviços que presta, a preços acessíveis à comunidade local, e dá lucro. Existem alguns pacotes de serviços para pessoas que não têm condições de pagar, e tudo certo. Alguns pagam um pouco mais e todos dividem os benefícios. Não achei apropriado tirar fotos dos ceguetas.

A estrada para Dhaka foi agitada, mas quase segura. Nada muito diferente do caminho de ida, com a diferença que voltamos de carro, e eu e o intérprete não éramos mais estranhos um ao outro. Conversamos, escutamos música local e paramos no mesmo posto da ida. Percebi que a minha imersão em Rajshahi me fez ter uma nova visão do local. Um ótimo posto, com comidinhas (comi uma esfiha de frango), tomei chá e comprei sorvete para nós três (eu, o motorista e o intérprete). Tinha uma comitiva da ONU parada no mesmo posto, o que fez eu entender que realmente aquele deveria ser o Frango Assado de Bangla: The Aristocrat – era esse o nome da biboca. Junto com a comitiva da ONU, um monte de soldado armado. Toda vez que eu vejo essas cenas aqui em Bangla me pergunto o que estou perdendo. Cadê esse perigo?

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. lí o livro "um mundo sem pobreza" adorei ver sua matéria!!

    ResponderExcluir
  3. Marina,
    Sou gestora de Negócios Sociais, no Rio. E adoraria te conhecer! marianakapps@yahoo.com.br Meu site www.consumoconsequente.com.br

    ResponderExcluir