terça-feira, 9 de novembro de 2010

Retorno de Rajshahi

Durante os 8 dias que estive no “exílio” em Rajshahi, sem acesso a internet, conheci muitos vilarejos e tirei mais de 2.000 fotos. Meu dia começava cedo, às seis da manhã. Todo dia banho gelado, café da manhã perto das oito, e logo saíamos (eu e o intérprete) para conhecer as clientes do banco e participar das famosas reuniões de mulheres. Eu era a única estrangeira no vilarejo. Alguns visitantes internacionais ficaram em Dhaka, outros foram para outras regiões.

Voltávamos para o banco perto do meio dia, almoçávamos, conversávamos, passeávamos um pouco pela redondeza, e voltávamos para estudar e discutir o método Grameen. Depois de umas duas ou três horas de “aula”, voltávamos ao campo, para visitas às residências e aos negócios de alguns clientes. O jantar era servido cedo, entre sete e oito da noite. Às nove eu já estava no meu quarto, lendo ou escrevendo, e antes da onze as luzes apagavam (muitas vezes bem antes disso, por conta dos blackouts, que eram muito mais freqüentes lá do que em Dhaka. Em Rajshahi ninguém tem gerador, só lanterna e vela).

Conheci mulheres e crianças e escutei a história de vida de muitas delas. Alguns homens tomaram coragem e vieram conversar comigo também. Voltei mais leve para a cidade. A mala também. Ficaram 2 pequenos potes de hidratante e 1 shampoo que eu trouxe comigo (e que as mulheres do vilarejo nunca tinham visto e quiseram experimentar), uma máquina fotográfica velha que eu tinha trazido por precaução (dei para o intérprete, cujo sonho era ter uma máquina, mas não tinha dinheiro para comprar), dois repelentes (acabei com eles no meu exagero para evitar dengue e malária), todo o meu dinheiro como caixinha para as pessoas que me ajudaram na casa em que eu estava hospedada e para os meninos que me guiaram pela redondeza e pedalaram os seus “bici-táxi” para me levar de lá para cá, e as comidinhas que eu tinha levado na viagem de ida e que eu acabei deixando de presente para meus anfitriões.

Aprendi a fazer melaço, a falar algumas expressões em bangla e a usar talher na mão direita. Entrei por engano em um ninho de morcegos que vive em uma mesquita abandonada. Fiz um bom amigo - o intérprete, uma tatuagem de rena nas mãos e passei “mehedi” nas unhas (uma tinta vermelha natural que a mulherada fez questão de me fazer experimentar – ficou horrível). Em algumas semanas sairá tudo. Voltarei civilizada para São Paulo, não se preocupem.

Os relatos dos próximos posts foram escritos nas noites da minha viagem e contam um pouco dos meus dias na pequena vila de Ghopapara, divisão de Rajshahi, onde fiquei hospedada em uma branch do Grameen chamada Geupara Puthia. Essa branch atende um pouco mais de 3.100 pessoas e há alguns anos não tem inadimplência. Ou seja, todo mundo paga em dia. Isso mesmo, 100% de bons pagadores.

Geupara Puthia fica a 150 km da fronteira com a Índia, a 50 km do Himalaia e a quase 300 km de Dhaka. A natureza do lugar é lindíssima. Dhaka parece um tanto quanto esquizofrênica depois de viver uma semana no interior de Bangla. Já sinto falta do ar fresco de lá. O hotel, no entanto, parece o melhor hotel de todos em que já me hospedei, bem diferente da impressão que eu tive há 13 dias atrás, quando cheguei em Dhaka. Tudo nessa vida é relativo.

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