terça-feira, 9 de novembro de 2010

Rajshahi Parte 8 - Mais Fatos e Casos

Hoje no caminho para a mesquita atropelamos um cachorro. O carro desgovernando que nos conduzia buzinou para quatro cachorros na estrada, eles absolutamente não se mexeram (até porque eles escutam tantas buzinas que não têm noção ou instinto nenhum de como se defender nessas estradas de malucos) e o nosso motorista “carrasco” não teve dúvida: passou por cima. Eu gritei. Todo mundo assustou com o meu grito, mas não com o cachorro sendo esfolado em baixo do carro. Seguimos em frente como se tivéssemos desenganchado algo preso (e sem vida) na lataria do carro. Os homens tentaram me acalmar, dizendo que o bicho tinha sobrevivido, mas eles estavam falando dos outros três que conseguiram se safar. Meu primeiro atropelo de cachorro.

***

Consegui um super deal com o intérprete. Ele me deixará sair com as mulheres, todos os dias no final do dia, para passear, sem ele. O primeiro passeio foi hoje às sete da noite. Já estava um breu e nas ruas da vila não há uma luz sequer. Algumas casas também ainda não têm luz. Todos andam pelas ruas de noite com mini lanternas, para iluminar os respectivos caminhos e não cair em buracos ou pisar no lixo. Dezenas de luzinhas de lanterna piscam e se cruzam pela vila toda. De vez em quando passa um caminhão desgovernado, buzinando, e sempre sou empurrada para o canto da estrada para não ser atropelada (elas me tratam como as crianças de 1 ano – as de 2 anos já têm autonomia para perambular sozinhas).

Visitei as casas de várias mulheres que têm vindo me ver no Grameen. Me apresentaram para seus filhos e parentes. Depois de uns 30 minutos de caminhada, tinha uma pequena multidão nos seguindo. No caminho elas vão me contando histórias em bengali como se eu estivesse entendendo tudo, e de vez em quando me ensinam como falar algumas poucas palavras. E dão risada. As noites aqui são lindas. Muito escuro, muita estrela. "Marina, no Brasil tem estrela também?"

Perguntei para todas elas quantos filhos elas têm e fiquei positivamente surpresa ao saber que a maioria tem um ou dois, algumas ainda estão evitando ficar grávidas, e todas querem colocar os filhos na faculdade. Duas mães disseram que suas filhas não vão casar antes de acabar a faculdade. Santo Grameen.

Falando em filhos, tenho que dizer que a criação de bebês humanos aqui segue outra filosofia, um tanto quanto menos neurótica do que a nossa, paulistanos workaholics. As crianças andam muito cedo, brincam sozinhas enquanto os pais trabalham, nadam com os mosquitos da dengue, estão sempre descalças ou até mesmo peladas e não usam fralda. Até 1 ano elas vivem agarradas no pescoço da mãe (literalmente, elas se penduram e não largam; as mães podem até soltar as mãos que os pequenos continuam empoleirados). Eles choram por 5 segundos, a mãe dá uma olhada e fala um “chiiii” e tá todo mundo quieto de novo. Incrível como nosso mundo conseguiu complicar tanto a criação ... de gente. Aqui eles fazem muito com muito pouco. Alguma coisa eles devem saber sobre isso, pois o que nasce de criança aqui não é brincadeira. E eles estão sobrevivendo, sou testemunha da proliferação.

2 comentários:

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  2. eu queria ser o carro so pra rolar debaixo do carro q vc estava acima

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