quinta-feira, 25 de novembro de 2010

New York, New Delhi

Quem acha que a Índia é pobre precisa ir para Bangladesh. Quem acha que Índia, Paquistão e Bangladesh é tudo meio igual, precisa vir para cá também. E quem veio para a Índia e ficou indignado com a pobreza, então você ainda não viu nada ...

O aeroporto de Delhi é uma surpresa para os ignorantes (me incluía nessa lista). Dá de mil a zero em Guarulhos e concorre com aeroportos modernos da Europa e de outras capitais da Ásia. Não parece que peguei um vôo de apenas 2 horas. Dhaka parece ter ficado em outro planeta. E estar em um país hindu e não mais em um país muçulmano é uma experiência ... de alívio.

A chegada no aeroporto não é tumultuada, a fila da imigração é bem organizada – inclusive para os estrangeiros, os corredores são largos e longos e claros e limpos. O banheiro, desacreditei, também. E não é no chão ...Todo mundo fala inglês! E todos olham para mim ... resolvi usar meu novo outfit adquirido em Bangla para a viagem – achei que ia me sentir menos forasteira, mas para o meu total engano, as mulheres da Índia moderna usam as mesmas roupas que as paulistanas: calças jeans, camisa ou camiseta, jaqueta de couro, casacos modernos e sim, sapatos altos (já contei que não trouxe sapatos altos para cá, certo? Não achei apropriado em Bangladesh, mas na Índia parece que combinariam bem). What the hell? Porque mesmo eu resolvi colocar essa roupa de ET para viajar? Senti-me como uma muçulmana de araque, no meio de uma tribo moderna de hindus. Sem falar no mehedi manchado nas mãos ...

Troquei 100 USD por Rupias (aqui o dólar vale algo próximo de 45 Rupias) e na saída do desembarque logo vi Amid, um indiano de 40 anos, sorriso largo, dentes brancos, com uma plaquinha na mão que levava o meu nome e uma grande van me esperando. Sem turbante.

A entrada da cidade é verde, organizada, com trânsito equivalente a São Paulo ou Nova Iorque (mas definitivamente não Bangla), largas avenidas, poucos semáforos (Nova Delhi foi projetada para ter poucos semáforos e assim fazer o trânsito fluir bem – e funciona). Tem buzina também, mas em outra escala. Tudo surpreendentemente mais avançado do que eu esperava. Claro, não é uma capital ocidental: há pessoas vestidas “a la hindu”, muçulmanos (esses já conheço bem), árvores centenárias, templos, fortes e mesquitas, sobreviventes do Eid nos bairros muçulmanos (cabras e vacas) e bastante gente na rua, mas não dá para começar a comparar com Bangladesh. Precisa passar mais uns 50 ou 60 anos para Bangladesh chegar nessa situação. Mesmo. Claro que estou falando de Nova Delhi, uma capital política importante do país, moderna, mas mesmo assim, essa não é a Índia que eu esperava. Depois de um mês em Bangla, New Delhi feels like New York (depois fui entender que a Old Delhi é bem mais parecida com Bangla, mas mesmo assim, daqui a uns 10 ou 15 anos ...).

Primeiro diálogo do Amid comigo: “Ms. Procknor, I will wait your husband to arrive later this week to deliver your travel package”. Ou seja, até o meu marido chegar na Índia, não terei acesso aos meus vouchers da Índia ... depois de um mês em Bangla, nem quis discutir sobre a questão. “Yes Sir. Thank you”. Tá tudo certo.

Segundo diálogo do Amid comigo: “What? You stayed one whole month in Bangladesh? Why????” Hehehe. Eles não entendem. E olha que eles estão aqui do lado. “You should have come to India before. This is a great country”. Tá tudo certo. Estou aqui agora.

Minha estadia na Índia será uma mistura de trabalho, descanso e diversão. Tenho que terminar algumas discussões e documentos com o Grameen – combinamos de nos falar diariamente, visitar algumas iniciativas de microcrédito na Índia (um grande IPO de um banco de microcrédito acabou de acontecer aqui e vou tentar entender como o modelo deles funciona – até porque eles e o Grameen não se entendem muito bem), e depois, como também sou filha de Deus, um pouco de férias com o Felipe. Além de Delhi, devo passar uns dias em Dehdarun (uma pequena cidade na base do Himalaia) e outros vilarejos dedicados à Yoga e Meditação, depois Agra (onde está o Taj Mahal), e por fim Jaipur e Daipur.

Segunda surpresa da estadia na Índia: o hotel de Delhi é um espetáculo, considerado um dos 10 melhores da Ásia (e acreditem, não custa nem perto de um hotel 3 estrelas em São Paulo). Depois de um mês em Bangla, não é tão difícil ficar bem impressionada com um bom hotel, mas acreditem, esse hotel é fantástico. Excelentes restaurantes, cabeleireiro, barbearia, sala de ginástica, bares, piscina, SPA, jardim, enfim, pacote completo. Para finalizar, e honestamente menos atrativo, uma loja da Channel. E não, não consegui entrar no ritmo consumista da cidade grande. Um mês em Bangla te afeta mais do que parece. Não tenho vontade de comprar nada. Mas vou dar um jeito de fazer as mãos até o final da semana.

Terceira surpresa da estadia na Índia: febre, cansaço e dor no corpo. Fui consultar a cola do meu infectologista e todos os meus sintomas combinavam com várias doenças: início de Malária, Dengue (essa eu já tive e posso dizer que era parecido mesmo), ou, apenas uma virose (o famoso “não sei o que você tem, pode ser qualquer coisa, vamos chamar de virose”). O infectologista disse: “Se você tiver febre, corre para o hospital. Se for Malária, precisa começar a tratar cedo”. Conversei um pouco com o médico do hotel, que pareceu muito calmo e relaxado, tomei um anti-térmico e fui dormir. E fiz isso por 16 horas. Acordei melhor. Não era Malária, nem Dengue. Nada muito importante. Só uma virose qualquer.

Delhi ganhou 3 vezes o prêmio de capital mais arborizada do mundo. A história da cidade tem mais de 5 mil anos e tudo parece incrível. Não dá nem para começar a contar. E nem vou tentar fazer isso, senão o blog rapidamente tornar-se-ia um guia chato e pouco profundo sobre a Índia ...

Quarta surpresa da estadia na Índia: meu guia/intérprete nos próximos 8 dias foi o consultor da Rede Globo na novela Caminho das Índias. Ficou com o elenco por 1 mês e meio aqui e mais 1 mês e meio no Rio. E disse que vai adorar contar todas as fofocas dos bastidores! Noveleiras de plantão, quando eu voltar ao Brasil estarei à disposição. Não seria apropriado abrir essas abobrinhas no blog. Pois é, empreendedores de microcrédito e viajantes de Bangla também gostam de novela ...

Antes de ir dormir na primeira noite de Índia, só consigo pensar no absurdo da divisão da Grande Índia em Paquistão Ocidental e Bangladesh ... o que será que esse povo estava pensando quando concordou com isso? E quem foi o infeliz que teve essa idéia para começo de conversa?












2 comentários:

  1. Ma, So pra te dizer:

    NAO PARA DE ESCREVER!!!!!!!!!!!

    Acho que vc vai ter que fazer essas viagens pra sempre!!!!

    Bjbj e saudade

    C

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  2. Marina querida, estou encantada com seu blog, vc é uma escritora incrível!!! E essa sua experiência deve estar sendo fantástica! Já era sua fã, agora então!!!!!
    Beijossss Celinha Cretella

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