terça-feira, 9 de novembro de 2010

Rajshahi Parte 7 - Empréstimo para Pedintes

Existe um programa especial de empréstimo no Grammen para pessoas que pedem esmolas. Aqui em Bangladesh pedir esmolas é uma profissão. Tem gente que costura, tem gente que pesca, gente que limpa, gente que planta, e tem gente que pede esmola. E só.


Voltando ao Grameen, eles concedem empréstimos aos mendigos, em valores bem menores (tipo 1000 takas). Os mutuários nessa modalidade de empréstimo não têm prazo para pagar a sua dívida e deles não são cobrados juros. Eu sei, é mais uma doação do que um empréstimo, mas para aqueles poucos que conseguem começar a produzir algo e quebrar o ciclo da miséria total, já é alguma coisa. O Grameen Bank não exige que as pessoas parem de pedir esmolas, pois isso os afastariam do programa.

Hoje eu conheci a Meherjan. Uma senhora que ficou viúva em 1971. Ela não tem dentes e não sabe quantos anos ela tem. Eu chutaria uns 80, mas pode ser menos, pois as pessoas aqui parecem 10 anos mais velhas do que elas realmente são.

Desde que a Meherjan perdeu o marido, ela começou a pedir esmolas, pois tinha 4 filhos para cuidar e não conseguia arranjar emprego. Vem fazendo isso há 39 anos. Pegou o seu primeiro empréstimo com o Grameen há 1 ano: 1.000 takas. Com o dinheiro ela comprou uma cabra e fez algumas reformas na casa. A cabra dela deu cria e hoje ela tem 3 cabras. Ela vai esperar o rebanho crescer, para começar a ganhar dinheiro com a criação.

“A senhora pretende parar de pedir esmolas no futuro e viver apenas da criação de cabras”?

“Não, eu não tenho capacidade para viver apenas desse trabalho. Eu não sei fazer conta, estou velha, e tenho que tomar conta da minha neta”, diz ela apontando para uma menininha linda, cabelo raspado como menino, que entra toda tímida na nossa sala e logo se aconchega no colo da avó.

A menina é saudável, mas deve ser a mais magricela que eu vi aqui no interior até agora. Na cidade tem um monte como elas, mas até agora eu só tinha visto crianças super saudáveis pela redondeza.

A menina chama Nojiba e tem 5 anos. É alta para a idade. Vou buscar um pacote de bolacha e dou pra ela. Ela demora uns 5 minutos para aceitar. Mais uns 5 minutos para ter coragem de abrir e começar a comer.

“Onde está a mãe dela?”

A mãe dela, filha da Meherjan, separou do marido e casou com outro. Largou a menina com a avó. O pai da menina também casou de novo e a nova esposa não gosta da pequena. “Então, ela veio morar comigo”.

Eu e o intérprete olhamos nossos bolsos e juntamos 700 takas para dar a elas. Claro que não é suficiente e não vai resolver a situação delas, mas fizemos mesmo assim. Elas foram embora em seguida, a senhora fazendo conta com o dinheiro na mão e a Nobija toda feliz, comendo o biscoito e me dando tchau. Vida difícil a pequena Nobija tem pela frente ...

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